Autor: Associação FACE de Água e Saneamento

Durante o trabalho com a comunidade da Munhava Matope para a adaptação e mitigação as inundações, financiado pela Cruz Vermelha da Holanda, ficamos maravilhados com as soluções locais usadas para impulsionar a resiliência as inundações e decidimos mapear e estender a atividade para mais bairros.

Isto não é nada, são apenas sacos com arreia que depois colocamos arreia por cima, e usamos para  passar, aqui sempre fica cheio de água, só isso.”

Morador do bairro Munhava Maraza

Durante os meses de trabalho, notamos que maior parte das pessoas não percebia que as soluções para os problemas poderiam vir de dentro da própria comunidade, e não apenas de intervenções externas. Vivemos em uma sociedade onde, geralmente as soluções são impostas de cima para baixo, e raramente acreditamos que muitas das respostas para os nossos desafios podem emergir da base e que é crucial reconhecer e valorizar este conhecimento.

“Para quem quiser construir agora, deve elevar o pavimento da sua casa, e os pedreiros da zona já sabem, e sabem também o quanto se deve elevar em cada canto do bairro. “

Morador da Munhava Matope

O Conhecimento sobre as soluções de base local é passada de geração em geração e entre a comunidade, o que para nós desencadeou uma necessidade de catalogar, ilustrar e apresentar a aquelas comunidades para mostrar que “não são só apenas algumas coisas que eles tem feito para poder viver minimamente”, mas sim estratégias prototipadas e que podem ser replicadas não só nos restantes 21 bairros da cidade da Beira, mas em toda a Província de Sofala e em todo País.

Dessa necessidade, surgiu o manual “Moçambique, Beira Comunidade resiliente: Um guião para viver com inundações“, composto por 5 capítulos. Este manual foi elaborado para ser utilizado por pessoas de todas as idades e níveis acadêmicos, oferecendo orientações práticas e acessíveis para fortalecer a resiliência comunitária às inundações.

Com muito orgulho, voltámos para apresentar aos bairros o resultado das suas soluções, e fomos surpreendidos com “ Obrigado Associação FACE por nos ajudar a valorizar as nossas formas de sobrevivência, como se diz por aí, a Cidade da Beira é resiliente, nós somos resilientes”.

Não podíamos parar por aí, realizamos uma roda de conversa no dia 16 de Maio para discutir sobre adaptação, mitigação e resiliência as inundações através de soluções locais.

O evento contou com uma ampla gama de participantes, incluindo importantes figuras governamentais e diversas entidades. Dentre os representantes do Governo, estiveram o Diretor Provincial das Obras Públicas de Sofala, representando o Governador da Província, o Vereador de Construção do CMB, representando o Presidente do Município da Beira, além de várias instituições governamentais como o Instituto Nacional de Gestão de Desastres, a Direção Provincial de Desenvolvimento Territorial e Ambiente de Sofala, e a Direção Provincial de Infraestrutura.

Representantes de organizações internacionais e locais como UN-Habitat, AVSI, UNDP e AMOR também participaram, juntamente com a Universidade Licungo e consultorias especializadas como Bakker Consultor projetos colaborativos da FACE como VNG e Blue Deal, bem como o Serviço Autônomo de Saneamento da Beira e ESMABAMA.

Personalidades individuais e os Secretários dos bairros também se fizeram presentes, destacando a importância a aplicação do conhecimento local na adaptação as mudanças climáticas e resiliência comunitária.

Em uma sala com um pouco mais de 60 participantes, refletiu-se sobre a importância do conhecimento e técnicas locais que as comunidades utilizam para fortalecer sua resiliência. Também se discutiu a necessidade de valorizar soluções de base.

“Nós impulsionamos o uso de soluções locais, desenvolvidas pela comunidade para a comunidade”.

O que você pode fazer para quebrar o estereótipo das soluções da base para o topo?