Autor: Associação FACE de Água e Saneamento

“Prezamos pela sensibilização, a sensibilização é uma ferramenta muito importante e que merece mais valorização”

Desde o início das nossas atividades sempre acreditamos no poder da sensibilização, não adianta trazer soluções inovadoras e não preparar a comunidade que fará o uso da solução. E por isso, para o dia Mundial da Limpeza de 2023 decidimos potencializar a sensibilização na Munhava Matope.

O Dia Mundial da Limpeza, também conhecido como World Cleanup Day, é um evento anual de conscientização e ação global em que pessoas de todo o mundo se reúnem para fazer a limpeza de resíduos sólidos das suas comunidades, praias, rios e áreas naturais. O objetivo principal é promover a conscientização sobre a poluição causada pelos resíduos sólidos e incentivar a participação ativa na limpeza e na adoção de práticas mais sustentáveis em relação ao meio ambiente.

O evento começou como uma iniciativa local na Estônia em 2008 e, desde então, cresceu e se tornou um movimento global, envolvendo milhões de voluntários em mais de 150 países. Moçambique faz parte e afortunadamente a cada ano o número de voluntários tem aumentado gradualmente.

Para nós (FACE), neste ano a comunidade focal foi Munhava Matope, que na verdade são duas unidades comunais do bairro Munhava Central localizada na Cidade da Beira, Província de Sofala, e onde estamos a prototipar o projeto “Os desafios de viver com inundações” financiado pela Cruz Vermelha da Holanda. Munhava Matope enfrenta vários desafios, entre esses desafios, a gestão de resíduos sólidos emerge como um obstáculo crescente. Munhava Matope também enfrenta as consequências devastadoras das inundações. Quando as chuvas torrenciais chegam, as casas e ruas ficam inundada por tempo longo e difícil de estimar.

Na fase inicial do estudo para a implementação do projeto, fomos profundamente tocados pelo desafio da gestão de resíduos sólidos e fomos analisando e criando melhores estratégias para contribuir para a melhoria de vida daquela comunidade.

 A celebração do Dia Mundial da Limpeza foi uma oportunidade ideal para não só sensibilizar aquela comunidade, mas também as instituições responsáveis ou associadas aos desafios daquela comunidade.

“A melhor forma de implementar projetos de inovação social é envolvendo a comunidade em causa”

Nosso primeiro passo foi ouvir. Fizemos reuniões com os membros da comunidade, trocamos histórias e compartilhamos preocupações. Era essencial que nossos esforços fossem coordenados com as vozes daqueles que mais importam: as pessoas que vivem na Munhava Matope.

O secretário do bairro compartilhou connosco a existência de um grupo de voluntários dedicados à limpeza. Eles dedicam seu tempo e esforço para manter a comunidade limpa, mas infelizmente, muitas vezes, suas ações passavam despercebidas e desvalorizadas.

Reunimos com o grupo de voluntários e eles abraçaram a ideia da sensibilização, e vimos juntos a necessidade de realizar não só limpezas, mas também a sensibilização, estávamos cientes do processo que nos comprometemos, mas como diz o ditado “Muitas mãos tornam o trabalho mais leve”.

Chegado o dia da sensibilização com dedicação e coragem, saímos pelas ruas, prontos para fazer a diferença. À medida que nos aproximávamos de cada casa, as vozes das famílias se tornavam um coro de curiosidade e surpresa.

Eu não tinha noção que deitar apenas uma garrafa na vala fazia isso“, confessou uma mãe de família com os olhos cheios de admiração. “Não sabia que era necessário ter esse cuidado“, admitiu um pai, balançando a cabeça em reflexão. Ouvir essas palavras era como música para os nossos ouvidos, mas sabíamos que o verdadeiro desafio estava em tornar essas palavras em ações concretas. As mudanças de mentalidade não acontecem da noite para o dia, mas estávamos determinados a continuar.

“Onde vamos deitar esse lixo, não temos lugar para deitar, nós estamos longe da escola, o único lugar onde tem contentor”

Conforme o Dia da Sensibilização avançava, alguns comentários nos deixavam sem palavras. “Realmente é isso“, sussurrou alguém da nossa team.

À medida que visitávamos as casas, um fato doloroso se tornava evidente: a escassez de locais adequados para o descarte de resíduos sólidos. Na Munhava Matope, tem apenas um contentor de lixo.

Sensibilizamos cerca de 160 famílias nesse dia, mas sabíamos que essa era apenas uma parcela da comunidade. Essa constatação nos fez refletir profundamente. Como poderíamos fazer mais com os recursos existentes? Como poderíamos ajudar a resolver esse problema de maneira significativa?

E não parou por aí, surgiram mais questões, como nós vamos levar o lixo para depositar na escola, se la já tem muito lixo. Parte superior do formulário

O único contentor de lixo está localizado na Escola Primaria da Munhava, por sinal a única escola localizada naquela comunidade, um local que dificilmente é encontrado seco, faz jus ao nome do bairro, sempre com matope, resíduos sólidos espalhados e está mesmo próximo a escola, por frente de uma das salas de aula.

Como poderemos

Incentivar a comunidade a fazer a deposição devida dos resíduos se nem existem locais devidos para fazer o descarte dos resíduos sólidos?

A acção executada no dia mundial da limpeza não traz as soluções para os problemas encontrados mas é mais um passo dado ao encontro de uma solução integrada e eficiente para um bairro que sofre com gestão de resíduos sólidos assim como as inundações.